PESQUISADORA DA UFFS DEFENDE EDUCAÇÃO EMOCIONAL NOS AMBIENTES ESCOLARES

Líder de grupo de pesquisa
sobre o assunto, Adriana Loss afirma que “o cuidado com as emoções pode
possibilitar às crianças e aos adolescentes o reconhecimento do que não faz bem
para si e para o coletivo”
ERECHIM/RS - Para a professora
Adriana Salete Loss, ninguém nasce ético e com espírito democrático: aprende-se
a ser ético e democrático vivendo a democracia e a eticidade nas relações.
“Para tanto, nossos ambientes educacionais precisam ser espaços éticos e
democráticos em suas dimensões organizacionais, administrativas e pedagógicas”,
pontua ela, docente na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) Campus
Erechim.
Desde seu pós-doutorado no
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, concluído em 2015, Adriana
pesquisa a inserção da educação emocional nos ambientes escolares formais e
não-formais. Em 2016, de volta ao Brasil, ela criou na UFFS o Grupo de Pesquisa
Educação Emocional (GRUPEE). De lá para cá, diversos estudos, incluindo livros
e orientações de TCCs e dissertações foram produzidos pela pesquisadora, que
afirma: “o cuidado com as emoções pode possibilitar às crianças e aos
adolescentes o reconhecimento do inacabamento, de uma maior compreensão dos
seus sentimentos e o pensar-se no sentido do projetar-se para a transformação
do que não faz bem para si e para o coletivo”.
Na entrevista abaixo ela
comenta sobre o assunto e destaca as pesquisas feitas na UFFS.
O que é educação emocional e
por que é importante discuti-la nas escolas?
A educação emocional nas
escolas é parte da formação integral do ser humano. Quando se fala de educação
emocional estamos propondo o cuidado com as relações humanas nas dimensões
intra e interpessoais. É fundamental que no processo educativo haja um cuidado
com o desenvolvimento humano no sentido da ética, de aprender e de vivenciar
valores humanizantes nas diferentes relações - por exemplo, do eu consigo
mesmo, com o outro, com a natureza e com o universo. É a aprendizagem da
percepção de que os seres humanos não são sujeitos separados de um real
reduzido à categoria de objeto, muito menos a medida de todas as coisas, mas
integrados num universo. A educação emocional é entendida não como ação
terapêutica, mas perpassada por processos autoformativos críticos e reflexivos
para a construção de relações e ambientes humanizados de afetos, de respeito,
de empatia, de solidariedade e de comprometimento com a vida.
Há alguma diretriz ou
documento que coloca como esta questão deve ser abordada atualmente nos
currículos escolares?
A Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) apresenta nas competências gerais da Educação Básica o
seguinte: “conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional,
compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos
outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas”. Tal competência
precisa ser analisada com muito cuidado, pois a BNCC é focada na formação
técnica, acrítica e para o mercado de trabalho. Assim, nas entrelinhas, a
competência socioemocional pode ser caracterizada como uma formação da
resiliência, do ser que se adapta às situações adversas. Mas não é isso. O
entendimento de educação emocional na escola não pode ser esse da formação para
a resiliência, mas sim o cuidado com a formação integral do ser humano. Um ser
que pensa, que sente, que está em constante autoformação e transformação. A
educação emocional é fundamental para o despertar do ser para o cuidado, na
perspectiva da construção da eticidade.
Os professores estão
capacitados para atuar com o tema? De que forma o Estado deve estar engajado
nas formações sobre o assunto?
Tenho desenvolvido junto aos
meus orientandos pesquisas com os professores da Educação Básica, as quais
revelam que não há na Formação Inicial e Continuada o cuidado com a dimensão
emocional, com foco nas inteligências intra e interpessoais. Identificamos nos
resultados das pesquisas o quanto os professores estão desenvolvendo um quadro
de mal-estar na profissão, chegando até mesmo a doenças oriundas das questões
emocionais, como ansiedade e depressão.
Defendemos a ideia de que na
Formação Inicial e Continuada possam ocorrer processos autoformativos para
reflexão crítica das diferentes situações que emergem na realidade escolar. Não
no sentido terapêutico, que cabe ao psicólogo ou psiquiatra, mas no sentido de
trazer as mazelas do ofício para o debate, para a reflexão e autorreflexão.
Nesse viés, o processo formativo se constitui no diálogo autoformativo das
vivências e experiências que precisam de reflexão constante para o pensar-se
bem e sentir-se bem.
Acerca do Estado, penso que há
que se investir na construção de currículos de formação integral, que observa o
desenvolvimento de habilidades e sensibilidades. Currículos atravessados pela
dimensão ética.
Qual a responsabilidade dos
pais sobre esta questão?
A família é a pequena
sociedade que promove a educação emocional. É no espaço familiar onde se dá a
formação inicial da personalidade do ser humano. Os pais são os primeiros
educadores. A escola é responsável pela formação integral do ser humano em
todas as etapas da Educação Básica, até mesmo no Ensino Superior.
Quais estudos têm sido
desenvolvidos no grupo de pesquisa da UFFS?
Entre 2016 e 2017 promovemos
encontros de formação continuada com estudantes de graduação e professores da
rede escolar, a partir do eixo temático “Educar as emoções”, na perspectiva da
metodologia pesquisa-formação e pesquisa-ação. Os encontros proporcionaram a
troca de experiências, a realização de leituras e reflexões partilhadas,
vivências e ações interventivas nos espaços educativos formais e não-formais.
Entre 2018 e 2021
desenvolvemos o projeto de pesquisa “A Educação Emocional nos Espaços
Escolares”, que resultou em um livro publicado. Neste ano começamos o projeto
“Formação de professores e educadores: narrativas biográficas”, em parceria com
pesquisadoras do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, por meio do
acordo de cooperação entre as instituições.
Com base nos processos desenvolvemos
pesquisas na graduação e pós-graduação, na orientação de TCCs e dissertações de
mestrado.
TCCs de Graduação
Educação emocional e a
mediação de conflitos escolares (Josiele Eliane Wall)
Educação emocional: concepções
dos professores(as) das escolas municipais da cidade de Erechim (Milena Escher)
Educação emocional na escola:
a ampliação das inteligências intrapessoal e interpessoal por meio de oficinas
pedagógicas de autoformação (Jonas Antônio Bertolassi)
Inteligência emocional na
escola: contextualização a partir das produções científicas do Brasil,
Argentina, Estados Unidos e Espanha (Elisama de Farias Soares)
TCCs do curso de Especialização
em Gestão Escolar
Administrando conflitos: o
papel da gestão escolar nas relações interpessoais (Mírian Eugênia Meneguello
Poletto)
As relações interpessoais na
gestão escolar (Eunice Radomski da Rocha – em andamento)
Dissertações do Mestrado
Profissional em Educação
Educação emocional na Educação
Infantil: concepções da docência sobre as competências socioemocionais da BNCC
(Rosângela Fátima Dalagnol)
As percepções emocionais de
professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental em início e final de carreira
(Jonas Antônio Bertolassi)
Livros
Docência e formação na
perspectiva biográfica: aportes para uma educação integradora das dimensões
emocional, relacional e ética. Vol 1. Curitiba: CRV, 2018. Organizadoras:
Adriana Salete Loss e Ivone Maria Mendes Silva.
Processos autoformativos em
Educação: o cuidar da formação pessoal, social e profissional. Curitiba: CRV,
2021. Organizadora: Adriana Salete Loss.
Créditos da foto anexa:
Divulgação/UFFS.
Wagner Lenhardt Jornalista
Assessoria de Comunicação
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