Redes públicas de ensino definem calendário e modelo de aulas em 2021

Escolas públicas de todo o
país começam a retomar as atividades e as redes de ensino anunciam os
calendários do ano letivo de 2021. As datas para início e término das aulas,
assim como os modelos adotados variam. Algumas redes estaduais anunciaram que
manterão o ensino exclusivamente remoto. Outras, retomam as atividades
presenciais, mantendo ainda as aulas a distância.
Ao todo, as redes públicas de
educação de 15 estados retomam as atividades escolares neste mês de fevereiro:
Acre, Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande
do Sul, Roraima, São Paulo e Tocantins. O estado de Goiás é o único em todo
país que já retornou às atividades escolares em janeiro deste ano.
A Bahia ainda não divulgou
informações sobre o início das atividades escolares na rede estadual. Os demais
estados e o Distrito Federal devem começar o ano letivo em março.
Os estados concentram a maior
parte das matrículas do ensino médio e dividem com os municípios as matrículas
nos anos finais do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano.
“As redes têm autonomia para
fazer suas escolhas tanto do formato quanto do momento do retorno”, diz o
presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), o
secretário de Educação do Espírito Santo, Vitor de Angelo. Segundo ele, a
tendência dos estados é retomar aos poucos a educação presencial, com o chamado
ensino híbrido, que combina o ensino presencial com o remoto.
“Não vejo perspectiva de longo
prazo para a gente ter um ensino remoto, ou seja, um discurso de que 2021
ficaremos com as escolas fechadas e ensino totalmente remoto até que haja
vacina para todo mundo ou o fim da pandemia. A perspectiva é de volta, no
modelo híbrido. Alguns vão voltar mais à frente que outros, mas há uma
perspectiva mais ou menos disseminada [entre secretários de educação] de
volta”, diz.
A preocupação, de acordo com
Angelo é que todos possam ter acesso à educação. “De fato pessoas ficaram
excluídas e isso independentemente do que se fez porque, em muitos casos, a
exclusão decorre de fatores externos às secretarias de Educação”, diz e
acrescenta: “Todo esforço tem sido feito para mitigar essas situações. Muitos
estados estão em processo de compras para distribuição de computadores. Oferta
de internet gratuita acontece em praticamente todos os estados. Busca de
alternativas com atividades impressas para contornar aqueles que não tiveram
acesso à tecnologia, mesmo com oferta de internet gratuita”.
Aulas
nos municípios
Assim como nos estados, a
situação nas escolas públicas municipais também varia. Segundo o presidente da
União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Luiz Miguel Martins
Garcia, a tendência é por ofertar, mesmo que para parte dos estudantes, aulas
presenciais. “Há uma sensação muito forte da necessidade da volta presencial.
Todo mundo se pergunta como vai ser a volta, mas hoje, apesar do medo, é forte
o consenso da volta”, diz.
Os municípios concentram as
matrículas da educação infantil e dos primeiros anos do ensino fundamental,
etapa que vai do 1º ao 5º ano. São, portanto, os maiores responsáveis, por
exemplo, pela alfabetização das crianças. Garcia diz que os gestores municipais
estão buscando se articular com a área da saúde e da assistência social
municipal, estão embasados em protocolos municipais e estaduais. A intenção é
que sejam incluídos, sobretudo, aqueles que foram mais prejudicados em 2020.
“Esse deve ser um processo gradativo de inserção dos grupos. A prioridade é daqueles que ficaram sem condições de acesso e não sentiram a presença da escola [em 2020]. Na sequência, é ir inserindo nas, aulas presenciais, aqueles cujas famílias optaram pela volta presencial mais rápida possível. Vamos respeitar o sentimento e a opinião das famílias que ainda estão com medo, vamos respeitar e oferecer ainda atividades não presenciais”, diz.
Três
anos em dois
As escolas terão o desafio
este ano de recuperar, ao menos o essencial, do que não foi aprendido pelos
alunos em 2020, além de ensinar o conteúdo já previsto para este ano. De acordo
com o Conselho Nacional de Educação (CNE), as escolas devem se preparar para
avaliar o aprendizado dos estudantes e planejar a recuperação dos conteúdos.
De acordo com o conselheiro do
CNE Mozart Ramos, no entanto, com o agravamento da pandemia, é possível que
2021 seja ainda um ano atípico e que a recuperação se estenda para 2022. A
ideia é discutida entre conselheiros. “É pensar três anos em dois, pensar 2020,
2021 e 2022 com base em 2021 e 2022, como uma integração curricular de três
anos. Somente 2021 não vai dar, até porque ninguém esperava a segunda onda da
covid-19 nessa intensidade que está vindo”, diz.
O Conselho Nacional de
Educação (CNE), em 2020 publicou pareceres para auxiliar as redes de ensino a
conduzirem o ensino durante a pandemia. O CNE autorizou, por exemplo, aulas
remotas em todas as etapas de ensino e autorizou a continuidade do ensino remoto
por todo o ano de 2021.
“Um ponto central é que
sempre, em todos os pareceres do CNE, colocamos como referência a questão
sanitária local, o que quer dizer que é preciso que autoridades sanitárias de
saúde locais digam se de fato há condições ou não do retorno às aulas
presenciais, de acordo com a evolução ou não da pandemia. Importante entender e
respeitar as condições sanitárias e as orientações das autoridades de saúde”,
diz Mozart Neves Ramos.
De acordo com Ramos, o
planejamento será algo fundamental este ano. “Os gestores das escolas agora
poderão fazer uma enorme diferença em relação à aprendizagem. Óbvio que para
isso precisam ter uma coordenação das secretarias de Educação que devem ajudar
a organizar, estruturar e planejar as atividades pedagógicas”. Outro ponto
importante é o trabalho de acompanhamento da saúde mental de estudantes e
professores.
Greves
e insegurança
Para professores e
profissionais de educação é preciso que sejam garantidas condições minimamente
adequadas para que possam retornar com segurança ao trabalho presencial. Greves
foram aprovadas, por exemplo, no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Nós
continuamos bastante preocupados com a situação da pandemia em nosso país. Não
observamos alteração da condição política nem segurança sanitária para fazer um
retorno às aulas presenciais”, diz o presidente da Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Manoel Gomes Araújo Filho.
A CNTE defende que o retorno
às atividades presenciais seja feito em diálogo com professores, funcionários,
estudantes, familiares e toda a comunidade escolar. Defende também que sejam
reforçados os mecanismos para oferta de atividades remotas com mais qualidade e
que haja a formação de professores para tal, uma vez que elas deverão ainda se
estender por todo esse ano. “Nós queremos voltar a nossas atividades
presenciais, mas essa volta tem que garantir que todos os trabalhadores estejam
vacinados, que haja testagem em massa da população, que haja rastreamento dos
casos de contaminação e que as medidas dos protocolos feitos pelos governos
sejam aplicadas de forma integral”, diz Filho.
O
levantamento da Agência Brasil foi feito com base em dados do Consed:
Rio Grande do Sul: As aulas da
rede estadual do Rio Grande do Sul recomeçarão no modelo híbrido, de forma
escalonada. No dia 8 de março, retornam os alunos do 1º ao 5º ano. No dia 11,
será a vez dos estudantes do 6º ao 9º ano. Por último, no dia 15, os alunos do
ensino médio e técnico. O calendário letivo de 2021 também prevê aulas aos
sábados.
Santa Catarina: A rede
estadual de Santa Catarina retoma as aulas no dia 18 de fevereiro. A proposta é
iniciar os trabalhos com três modelos, que podem coincidir: 100% presencial,
misto e 100% online. O primeiro será aplicado nas escolas que dispuserem de
salas com infraestrutura adequada para realizar o distanciamento de 1,5 metro
exigido entre as carteiras dos alunos.
Edição:
Denise Griesinger
Em
15 Publicado em 15/02/2021 - 08:52 Por Mariana Tokarnia e Heloísa Cristaldo -
Repórteres da Agência Brasil - Brasília e Rio de Janeiro